quinta-feira, 24 de junho de 2010

zanardeando

O sumo do suco do extrato grosso espesso concentrado da palavra leve aérea perfumando o ar onde soa o mar onde ecoa a mar onde escoa a palavra mar onde escorra a palavra porra até o óvulo ouvido da próxima palavra pessoa.

Arnaldo Antunes.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Mointagne me disse ontem à noite:

"Vamos agir portanto e prolonguemos os trabalhos da existência o quanto pudermos, e que a morte nos encontre a plantar nossas couves, mas indiferentes à sua chegada e mais ainda ante as nossas hortas inacabadas".

... e completou: "Em meus escritos alguma coisa fica, em mim, quase nunca."

Chego a achar engraçada a maneira como eu dou muito mais importância aos detalhes pequenos. Minimais. Infinitesimais. Como o velho Leibniz dizia. O determinante não está no grande, mas no detalhe. No minúsculo, no infinitamente pequeno, quase imperceptível.Foi um filósofo que descobriu o cálculo infinitesimal, engenheiros.

Minhas sextas à noite eram passadas desse jeito. E pra mim, fazia sempre tanto sentido.Não precisava de Leibniz para me dar conta disso. Sempre soube.Eu sabia que era amizade quando eu dei aquela festa lá em casa e agente lavou junto o quintal às cinco da manhã e teve toda aquela guerra de mangueira.Eu sabia que era saudade porque o fato da minha tevê não ter Discovery H&H, me lembrava que a sua tinha, e todo vez que eu não colocava naquele canal eu lembrava de você. Nanismo primordial.Quando eu ganhei aquele colar de pérola negra, eu não vi o colar, eu o vi preocupado em saber se eu ia gostar do presente.Gosto muito mais daquilo que meu dinheiro não pode comprar.Ninguém pode comprar um telefonema às duas da manha numa segunda de um amigo pedindo que você converse com ele pra não dormir na estrada.Nem uma crise de riso na mesa de Domingo, com toda família, daquelas que você tenta tomar um copo de coca pra se acalmar e acaba cuspindo tudo pelo nariz, e sua avó passa atrás de você e te manda levantar os braços e chamar São Braz.Quando eu ganho um livro, a dedicatória é sempre tão mais importante que o título.E o cartão é mais importante que o presente.E a viagem é sempre mais legal que o destino.Eu sabia que era amor quando ele pegou aquela mexa do meu cabelo, colocou atrás da minha orelha e meu deu um beijo na testa.Não me faltava mais nada.

É sempre tão pequeno, quase invisível.

outro 16 de junho.

Oh, James Joyce. June 16th.
16 hours.
Ulysses.
Genius.


segunda-feira, 7 de junho de 2010

where the wild things are



Namorados

O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
-Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
- Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?

A moça se lembrava:
- A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
- Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.

O rapaz concluiu:
-Antônia, você é engraçada. você parece louca.
Manuel Bandeira