quarta-feira, 31 de março de 2010

remember me.


O que quer que você faça na sua vida, será insignificante.
Mas é muito importante que você o faça.
Gandhi
*Remember me - Holywood me tirando o folêgo.

Apesar de ser um saco ser humano.


Eu não sei se um dia eu vou saber o motivo daquele ato. O que eu sei é que, mesmo me sendo alguém distante, ele me era alguém. Ele me era esses tipos de "alguém" que a tia e a vizinha conhecem porque passou em primeiro lugar em algum tipo de concurso muito concorrido, sempre seguiu as normas, fez tudo como deveria ser feito. E acabou assim, se dependurando em algum lugar dentro da casa, que eu prefiro nunca saber qual foi. Mas sei que vão me contar. Esse tipo de noticia chega tão rápido e demora tanto tempo pra ir embora. Apesar de dever estar preocupada com os pais, irmãos, família em geral (e eu realmente estava), a única coisa que não parava de me atormentar era: ele realmente se matou. Eu já ouvi ameaças como essa ecoarem dentro de mim em certos tardares da noite, e lembro de algum resquício delas em tardes pacatas, mas nunca uma palavra, nem um gesto, nem uma linha chegaram a se materializar.
Não me causa estranheza este tipo de atitude. Sei que somos feito de carne e espírito e que quanto mais espírito e alma se tem, menos nos adaptamos. Alma é a tradução do latim "anima". Desconfie dessas pessoas muito "animadas", tem alma demais lá dentro. Um dia elas ainda vão te chocar. Mas não me lembro dele ser animado. Me lembro dele quieto, mas sempre com um ar sorridente. Não quero tentar adivinhar a razão de um sofrimento tão grande, de tamanha angustia, que termina com um laço em volta do pescoço. Quero apenas dizer que é real. A dor, o choro, o tédio, o desespero. É real demais. E por mais real que seja, agente nunca vai ver. Só nessas horas que tá roxo demais pra tentar alguma coisa.
Como a causa é algo tão subjectivo, e tem intensidades diferentes pra cada um acho que o melhor que eu posso fazer é ser um pesinho da solução. Sei porque, por mais que este mundo consiga alienar nossa consciência, ele nunca vai conseguir alienar a nossa alma. E apesar de a felicidade residir aparentemente numa quantia obscena de dinheiro, não é verdade. É cliché, mas é verdade. É verdade porque eu sei que se eu pedir pra você procurar na sua mente uma das melhores lembranças que você tem, você não conseguiria colocar um preço nela. Nossa alma se alimenta de coisas diferentes do que se alimenta nosso ego.
É é da nossa alma que devemos cuidar, porque ela está lá, persistente, batendo desesperadamente na porta dessa minha rotina mecânica, desses hábitos pré-concebidos, desses sachets cheirosinhos dentra da minha gaveta de meias impecavelmente dobradas. Existe o certo, o errado e existe todo o resto. Se eu não abrir a porta de vez enquando, um dia desses ela acaba explodindo e derrubando tudo de uma vez .
Eu, eu assim, sem disfarce nem fantasia me alimento de coisas banais: de edredons velhos na sala em domingos normais, e toda a família reunida, brigando pra saber que canal agente vai assistir; De risadas de crianças correndo no quintal, risadas, mesmo com o pé sangrando de jogar bola no asfalto; De poesias de amores absurdos, de livros não importantes, de abraços apertados, de dançar até as nove da manha, de ouvir os casos antigos do meu avô, da história de como meus pais se apaixonaram, das fofocas de quem eu conheço, do beijo de boa noite, daquele dia que minha mãe deixou eu escolher dois chocolates no super mercado ( eu só podia escolher um), Do perdão que eu me permiti doar; Daquela vez que ele gritou "eu te amo" bem alto, no meio da cidade, pra ver se a lua me convencia, daquela caixinha de cartas antigas qeu eu guardei, que tá sempre tão empoeirada.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Nas voltas do meu coração


Tenho o mal-hábito (inevitável) de tornar aqueles poucos minutos que precedem o sono meu momento de fuga da realidade. Naqueles dez minutos em que sou só eu e meu travesseiro, um quarto escuro e o barulho da televisão ligada na sala parece distante, tenho certeza que a minha alma se desprega de mim mesma. Ela se desprega e sai rodopiando, mirabolando fantasias e planos para aquele corpo preso no mundo sensível. Minha alma vai além. Já estive em tantos lugares nesses dez minutos. Já fiz cursos em Dublin e Nova Iorque. Visitei museus do Cairo e quando virei antropóloga achei a biblioteca de Alexandria. Todo mundo ficou pasmo e foi um reboliço global. Já trabalhei de garçonete na Holanda e fiz projetos na África sobre os Direitos Humanos. Foi por causa disso que eu ganhei um Nobel. Mas foi na Espanha que eu conheci o grande amor da minha vida, e foi sem mais nem menos. Nunca imaginei que seria ele. Mas o meu amor de dez minutos era eterno. Eu também lembrava daqueles momentos em familia, que também precisava da estrada, já que a distância que me separa das pessoas que eu amo variam de uma medida de 300km ao oceano atlântico inteiro. Por isso que gosto tanto das estradas, por isso que o asfalto quente me conforta e a paisagem verde me acalenta. No final daquela estrada, daquele mar, tem alguém. Acho que se agora tenho 20 anos passei 2 inteiros dentro de um carro. E cada ida é uma surpresa, cada volta é uma saudade. Mas a saudade não me importa, já sou imune a ela desde os meus cinco anos quando tive que me despedir e ver a janela do meu quarto ficar cada vez menor, até desaparecer. Eu tinha cinco anos e consciência da dor de nunca mais voltar. De alguma maneira eu sabia que aquela não seria a última vez. E não foi.
Meus dez minutos não são sempre cheios de passagens aéreas e asfaltos. As vezes meus dez minutos viram mil anos quando eu não consigo me desprender. É quando eu dou asas àquele sentimento de individualidade e me apego a mim mesma (que no final das contas, não passa de um amontoado de dúvidas, inquietamento e incertezas, daquelas que corroem o espírito e leva alguém a estudar filosofia.) Meu professor já me disse, se você está conformado, não faça filosofia. Acho que eu nunca vou me conformar . São nestes momentos que o travesseiro fica molhado e eu desejo que nada disso, nem a saudade, nem os prêmios Nobel, nem a palpitação de amar existissem. Jogo tudo fora e viro um corpo. Meu corpo não chora. E depois eu me arrependo e recolho todos os cacos que eu acabei de quebrar e me formo a mim mesma.
Sou assim, um mosaico de cacos que nem sempre eu lembro se foi lembrança vivida ou lembrança sonhada, que colei uma do lado da outra pra voltar a ser eu. Só que na bagunça dessa busca por lembranças não segui ordem cronológica alguma, de modo que numa mesma parte de mim você pode me encontrar brincando de areia com meu pai e em seguida, me ver segurando meu sobrinho, que ainda nem existe. Por isso não me encontro, ou me encontro e me perco tão rapidamente. Não me vejo, não sei se sou, se fui, se serei. Fica tudo rodando nos instantes, nessas voltas do meu coração. Mas não gasto muito tempo com isso, porque no final, não passam de dez minutos.

sexta-feira, 12 de março de 2010

pensamentos de Neruda

Ri-te da noite
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
mas quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso.

c'était salement romantique - couer de pirate



Só pra aliviar essa febre de França. que não para de disparar meu coração. Tudo bem que ela é Canadense, mas... c'est beau.


Et au sud de mes peines, j'évolue loin de toi
pour couvrir mon coeur d'une cire un peu noire
Que tous les regards lancés à mon égard
J'ai tenté de voler loind de toi
J'ai tenté de voler loin de toi.

sem-teto.



Comes the morning
when I can feel
that there's nothing left to be concealed
Moving on a scene surreal
No, my heart will never
Will never be far from here

Sure as I am brething
Sure as I'm sad
I'll keep this wisdom in my flesh
I leave here believing more than I had
And there's a reason I'll be back

As I walk
The hemisphere
I'got my wish
To up and disappear
I've been wounded
I've been healed
Now for landing I've been
landing I've been cleared
I leave here belienving
More than I had
This love has got
No ceileing

segunda-feira, 8 de março de 2010

resoluções axiomáticas


Não falta mais nada para me convencer de que um rémedio seja, não a melhor, mas a única solução pra essa minha doença. E não vou me contentar com qualquer genérico não. Quero o melhor remédio que exista, daqueles laboratórios estadunidenses ou europeus, com direito a testes ilegais na população africana e licença de fabricação comprada dos poderosos mais corruptos e que possa ser encontrado na prateleira de qualquer farmácia, de qualquer esquina do honesto bairro nobre que eu moro. Somente esse remedio vai me satisfazer. Nada menos.
Cansei de doses homeopáticas que mais incitam do que inibem minha alma de vibrar. Queria tanto que me fosse natural ser comedida. Mas não é. Não é e me dói. Dói com as caracteristicas de cor purpura, densa e quente.
Eu nunca pedi pra ler Lord Byron com dezasseis anos. Me deram como leitura obrigatória Johann Wolfgang von Goethe. Eu sinto como Baudelaire dizia em "Les fleurs du mal". "Tenho lembranças como quem tem mil anos". Essa insaciedade da alma, que não sossega. Essa sede que livro nenhum dá jeito. Me impressiono com os menores detalhes, aqueles bem pequenos, quase invisiveis. E o que é belo me pesa no espirito, fisicamente. A única pessoa que eu vi chorar escutando Requiem de Amadeus Mozart foi meu pai. Eu também não aguntei.

Por esta razão acho que meu exagero sentimental, alma de humano boêmio, com certa dose de libertinagem me seja tão meu. Me é tão meu, todo dia, adivinhar se o vento, o céu e a música que toca estão em harmonia com aquelas nuvens passando...

quinta-feira, 4 de março de 2010

Where is my mind - Pixies


Jurei que não ia ceder novamente. E o mais surpreendente é que foi muito fácil não ceder. Juro que não esperava por isso. Fazia tanto tempo que eu nem lembrava mais que você limpava a casa tomando cerveja e escutando "The doors". Tudo que tinha sobrado na minha memória era a imagem daquela garrafa que você tomou sem mim. Sem ninguém, por sinal.
Todo aquele gosto de Janis Joplin e Bob Dylan às quatro da manha, acompanhado daquele travesseiro que tinha cheiro de H20, e um cabelo bagunçado que bagunçava minha cabeça me era tão distante e tão doloroso que tenho certeza que biologicamente tudo em mim estranhava você.
Tô lembrando de Los Hermanos, "que o esforço pra lembrar, é vontade de esquecer".
Mas eu nunca vou esquecer. Nem que eu me esforce, nem em um século, um mês, três vidas e mais. Só tenho que aprender a guardar você em algum lugar fora das minhas fantasias de Power Rangers vermelhos, cervejas em piscininhas plásticas, banheiros de salão de festas, viagens pra Machu Pichu e filmes da sessão da tarde, aqueles velhos, que agente lembra pra sempre.
Não tenho condições de te guardar em mim. Já tentei, você sempre foi muito espaçoso e folgado. Prefiro lembrar do box embaçado e da caixinha de leite sorridente. E do tanto que eu me esforçava para entender porque eu me esforçava tanto. Eu me esforçava tanto. " Dizem que tô louco, por te querer assim, por te pedir tão pouco, e me dar por feliz". Eu nunca fui sua flor, nem seu bêbe.
Você sabe, na verdade, era mentira quando eu cantava aquela música do Ultraje a rigor " só quero um pedacinho, mas você me dá uma migalhinha". Ououououou Giselda. Eu nunca quis só um pedacinho, e acho que foi por isso que eu nunca fiquei satisfeita com aquelas "migalhas dormidas do teu pão, pequenas porções de ilusão". Só lembro daquela for vermelha do meu vestido que hoje em dia só tem cheiro de sangue pingando.
Prefiro guardar aquela cena do "Clube da luta", com aquela música que você adora, e eu digo pra você com sinceridade, como quem reconhece em si mesmo uma parte que não conhecia, de mão dada com um pseudo-amor, assistindo ao próprio mundo cair:" you meet me in a very strange time of my life".