Adoro nunca ser a mesma coisa. Adoro nunca serem as mesmas pessoas. Adoro o novo, sempre. Encham-me de tudo aquilo que eu não conheça. Encham até transbordar e inundar o ambiente onde eu me encontro de letras e cheiros e "ismos" que me são completamente desconhecidos até hoje.
Encha porque o vazio que acomete as minhas certezas me afligem e me inquietam a vida. Não quero a certeza cristã dogmática e nem a certeza cientifica mutabilíssima no maior superlativo que possa haver. O mundo é tão pequeno e as pessoas são tão grandes. Tão grandes que não cabem no mundo quiçá em si mesmas. Volto ao pensamento do "eu" fragmentado de que trata Heidegger. Eu me manifesto somente em partes, nunca manifesto meu " eu " por completo, este "eu completo" só existe na minha cabeça.
Então é assim: a única maneira de "eu" me manifestar são em partes, pedaços, doses. Doses de mim. Quero cinco doses de mim hoje garçon, por favor. Hoje quero me sentir completa. Vou ser eu-filha, eu-mulher, eu-aluna, eu-irmã, eu-amiga. Quanto fica? É por conta da casa hoje, você está muito bonita. Obrigada. Só lembro que no final da noite vomitei como uma doente.
As doses não me agradam. Meus "eus" pedaços não me agradam.
Fico feliz por um momento por existirem as palavras e eu poder escrever o que de outra maneira nunca conseguiria expressar. Se falo fico louca, me perco em pensamentos e vozes e não me vejo. Assim é bom, eu me vejo, vejo cada acento errado e cada construção gramatical mal feita que eu nunca soube corrigir.